Monday, October 27, 2008

"Language is a Virus From Outer Space", Laurie Anderson

Simplesmente fantástico...this contemporary artist inspired by William S. Bourroughs

Tuesday, October 21, 2008

Trevor Huddleston's Translation

Sophiatown was a slum. Those of us who have lived there would never wish to deny that. We have seen with our own eyes the heroism of so many of our Christian people in their environment. It would be treason to them to deny that Sophiatown was a slum. But slum conditions can be removed without the expropriation of a whole area. Indeed the greatest experts in town-planning would agree that only in the last resort should you uproot people from the place they know as home: for in such uprooting you destroy not only the fabric of their houses, you destroy a living organism - the community itself. Sophiatown, then, could have been replannned and rebuilt on the same site: a model African suburb. It could have been, but for the pressure of three things. First, the pressure of white opinion and the political force it represented; secondly, the existence of freehole tenure, and the treat of permanence which it implied; thirdly, that which underlies every event of any racial significance in South Africa: the assumption that white "civilisation" is threatened by the very existence of an African community in any way similar to itself. The African in the kraal is in his right place: so is the African kitchen. But the African in a "European" suburb, in "European" house which he himself owns and is proud of: he is a menace: he must be removed.
Trevor Huddleston
Sophiatown é um bairro de lata. Nós que vivemos lá nunca pensaríamos em negar isso. Temos constatado com os nossos próprios olhos o heroísmo do nosso próprio povo cristão inserido no meio ambiente deles. Seria uma deslealdade, eles negarem o facto que Sophiatown é uma “favela”. No entanto, as condições vividas neste tipo de bairros podem ser retiradas sem a expropriação dum bairro inteiro. Na verdade, os melhores profissionais em urbanismo estariam de acordo, só em última hipótese desenraizar os habitantes do bairro considerado o seu lar: pois tal desenraizamento destrói não só a essência das suas casas, como também se acaba com um organismo vivo – uma comunidade inteira. Sophiatown, portanto, poderia ser requalificada e reconstruída no mesmo sítio: um modelo suburbano Africano. Poderia ser, caso não levantasse a pressão a três pormenores: Primeiro, a pressão da opinião dos caucasianos e a força que representaria politicamente; segundo, a existência da propriedade ténue, e da ameaça de permanência que tal implicaria; terceiro, reforça qualquer evento racial significativo na América do Sul: a assumpção que a “civilização” do homem branco é ameaçada pela existência de quaisquer semelhanças com a comunidade africana. A condição de africano dentro de uma cabana está no lugar certo: tal como o africano dentro da cozinha. Mas o africano dentro de um subúrbio “europeu”, dentro de um lar “europeu”, propriedade dele próprio: ele torna-se uma ameaça: ele deverá ser removido.
Jorge Correia Orfão
Sophiatown é um bairro de lata. Nós que vivemos lá nunca pensaríamos em negar isso. Temos constatado com os nossos próprios olhos o heroísmo do nosso próprio povo cristão inserido no meio ambiente deles. Seria uma deslealdade pura, eles negarem o facto que Sophiatown fosse uma “favela”. No entanto, as condições vividas neste tipo de bairros podem ser retiradas sem a expropriação dum bairro inteiro. Na verdade, os melhores profissionais em urbanismo estariam de acordo, só em última hipótese desenraizar os habitantes do bairro considerado o seu lar: pois tal desenraizamento destrói não só a essência das suas casas, como também se acaba com um organismo vivo – uma comunidade inteira. Sophiatown, portanto, poderia ter sido requalificada e reconstruída no mesmo sítio: um modelo suburbano Africano. Poderia ter sido, caso não levantasse a pressão a três pormenores: Primeiro, a pressão da opinião dos caucasianos e a força que representaria politicamente; segundo, a existência da posse ténue, e da ameaça de permanência que tal implicaria; terceiro, subjaz qualquer evento racial significativo na África do Sul: a assumpção que a “civilização” do homem branco é ameaçada pela existência de quaisquer semelhanças com a comunidade africana. A condição de africano dentro de um curral está no lugar certo: tal como o africano dentro da cozinha. Mas o africano dentro de um subúrbio “europeu”, dentro de um lar “europeu”, propriedade dele próprio do qual se orgulha: ele torna-se uma ameaça: ele deverá ser removido.

Jorge Correia Orfão

(reviewed by: Hilary Owen)



Wednesday, October 15, 2008

Maria Ondina Braga's Translation

"Há no meu bairro um relojoeiro, homem de idade, alto, magro, de cabeleira branca revoltada e bigodes crestados e pendentes.
Vejo todos os dias o vulto do relojoeiro, à luz da lâmpada, na cave da calçada que vira para o cemitério. Pergunto-lhe as horas. Resposta infalivel:
- Horas de viver!
Sorri um sorriso fechado pelo cachimbo ao canto da boca, carrega no botão de uma caixinha a seu lado, e a música irrompe.
- É bonito mas estou com pressa.
- Horas de viver! Oiça só até ao fim esta musiquinha. São violinos!
Às vezes cismo como será que ao relojoeiro não falta trabalho? Sítio tão afastado da estrada, ele sozinho, velho, e nem uma tabuleta a assinalar-lhe a arte. A verdade, contudo, é que nunca o vi desocupado. de manhã à noite de cabeça curvada, monóculo comprido, mãos quase tão brancas como os cabelos, leves e lentas, o homen disseca ventres de relógios minúsculos, retoca algarismos romanos em antigos quadrantes, atarraxa molas, equilibra pesos. E também nunca lhe vi clientes. Chego a fantasiar que ele trabalha para os mortos ou para os deuses. Mas, se os relógios medem tempo...
Misterioso o velhote. A Loja um museu. Por todo lado relógios: de cuco, despertadores, de parede, de pulso, de bolso, e até de sol, e até de areia. Todos, porém, parados e cobertos de pó."
Maria Ondina Braga

English Translation: dedicated to someone special, a special warm thank you to the Blue Prince
In my neighbourhood there is a watchmaker, he is an elder man, tall, slim, with a white twigged hair wig, and wiggled moustache.
Everyday, I see the watchmaker’s figure, in the light of the street lamps, down the end of the road that turns towards the cemetery. I ask him for time. He responds infallibly:
- It’s time to live!
I smiled a closed smile through the pipe at the corner of my mouth, the watchmaker presses the button of a small box that was next to him, and music pops up.
- It’s lovely but I am in a rush.
- It’s time to live! Just listen to this music till the end. Its violins!
Sometimes I wonder why the watchmaker always has work to do. It’s a place so distant from the road, all by himself, an old fellow, and not a single board sign indicating his art. However the truth is I never saw him unoccupied. From morning till dawn with his head curved down, long monocle, hands as white as his hair, light and slow, the man dissects the insides of tiny watches, retouches the roman numerals in ancient dials, anthraxes gadgets, and sorts out balances. And also I have never seen a client around. I find myself fantasizing that he works for the dead or for the gods. But, if clocks measure time…
Mysterious the old man. The store a museum. There are clocks everywhere:
cuckoo-clock, alarm clocks, wall clocks, wrist clocks, pocket clocks, and even sundial, and even sand clocks.
Yet , all of them, were still and covered with dust.
Jorge Correia Orfão
In my neighbourhood there is a watchmaker, he is a tall, thin elder man, with a white twigged hair, and a drooping moustache.
Everyday, I see the watchmaker’s figure, in the light of the street lamps, down in the cellar below the road that turns towards the cemetery. I ask him for the time. He responds infallibly:
- It’s time to live!
He smiles a closed smile through the pipe at the corner of his mouth, the watchmaker presses the button on a small box that is next to him, and music busts up.
- It’s lovely but I am in a rush.
- It’s time to live! Just listen to this music till the end. Its violins!
Sometimes I wonder how the watchmaker always has work to do. It’s a place so distant from the road, all by himself, an old fellow, and not a single sign board indicating his art. However the truth is I never saw him unoccupied. From morning till dawn with his head bent down, long monocle, hands as white as his hair, light and slow, the man dissects the insides of tiny watches, retouches the roman numerals on ancient dials, tightens springs, and balances weights. And also I have never seen a customer either. I find myself fantasizing that he works for the dead or for the gods. But, if clocks tell time…
Mysterious the old man. The store a museum. There are clocks everywhere: cuckoo-clocks, alarm clocks, wall clocks, wrist watches, pocket watches, and even sundials, and hour glasses. Yet, all of them were stopped and covered with dust.
Jorge Correia Orfão
(reviewed by:Hilary Owen)