Thursday, March 15, 2007


“As many languages as he has,

as many friends, as many arts and trades,

so many times is he a man"

Carta Ao Jovem Poeta

dedicada a Cristina e Márcia com muito respeito e carinho

“Se a tentação que sente é irresistível de escrevê-los (os poemas), se não procura a fama ou o proveito, se a dor maior de escrevê-los só se cura com a dor maior de escrever outros, se se sente vazio e triste quando eles são escritos, e sofre de sentir-se vazio quando vai escrevê-los e não sabe nunca o que vai escrever, e acha horrível tudo o que escreveu mas não é capaz de destruí-lo, então publique-os, publique-os sempre.”
Jorge de Sena

As ruas preenchidas com cartazes anunciando bailes de máscaras, serpentinas que acompanham os ventos, as crianças fantasiadas com fatos hilariantes, os desfiles, as cores, os risos, o samba, enfim uma festa de boa disposição saliente entre as pessoas indica-nos que chegou o Carnaval. São imensas as imagens que cada um de nós pode ter quando se fala nesta festa de Fevereiro. Os meios de comunicação transmitem nos toda a celebração do grandioso Carnaval vivido no Brasil, tal como há sempre alguém que invoque ou prefira festejar este dia em Veneza vivendo o espírito da tradição das suas máscaras. Toda a gente terá tido a experiência de ouvir os mais idosos a recordar as travessuras que neste dia aparentavam ser consentidas e mesmo os contos e mitos do Carnaval contados por eles são todas imagens, entre outras, que podemos ter acerca do Carnaval. Material não falta para escrever um poema sobre esta época festiva mas, existirá alguém capaz de o fazer? Todas as imagens que temos e que nos ocorrem na realidade do dia-a-dia, serão suficientes para expressar em palavras a sua descrição física ou psicológica, seja ela qual for? Quem tem o direito de escrever, quem pode escrever e como pode escrever foram questões que no Domingo de Carnaval, num pequeno encontro de amigos em Santo Tirso foram levantadas após uma brilhante recitação-surpresa de dois poemas inéditos de dois autores contemporâneos de poesia portuguesa. Desde já o meu agradecimento pelo convite e por toda a hospitalidade que tive direito durante todo o convívio.
As conclusões às questões que anteriormente referi foram curtas uma vez que este tema exige mais tempo de reflexão. Tivemos que admitir que qualquer sujeito pode escrever. A escrita é uma forma de comunicar e transmitir emoções, sensações, uma forma de expressar o que nos vem na alma. Esta pode desenvolver-se da simplicidade até à complexidade. Devemos talvez pensar que cada pessoa se expressa sob diferentes condições poéticas. Existem escritores que escrevem desde sempre e naturalmente fazem crescer as suas práticas para se expressar ou fazer-se expressar. Outros começam mais tarde quando se descobrem ou porque dedicaram algum tempo para desenvolver as suas capacidades. Escrever é uma forma de registar os nossos pensamentos e com as palavras podemos fazer grandes obras de arte. A forma mais eficaz de encarar a arte de escrever é através da leitura. Embora cada vez existam mais leitores e mais iniciativas que promovem o acto de leitura, ainda são poucos os leitores de poesia.
Saber apreciar um bom texto é como saber saborear uma taça requintada de champanhe. Compreender aquilo que é literário de aquilo que não o é torna-se fundamental para jovens escritores. A materialidade da linguagem torna-se vulnerável e nós brincamos com a sua flexibilidade para melhor nos entender no mundo ou pelo contrário, para melhor nos perdermos nele. Este ano a imagem que trago do Carnaval serão as palavras declamadas por duas pessoas significativas nos meus afectos. Ambas marcaram o dia ao partilharem a sua condição poética, as suas formas de encarar a realidade, neste caso talvez mesmo o extremo máximo do Amor. Assim, mediante a maturação de cada um somos todos uns poetas mascarados como se todos os dias fossem dias de Carnaval… Como se todos os dias fossem motivo de cantar.